Assim que o Brasil tiver caminho livre para exportar milho à China, os preços mais altos da nova demanda vão começar a chegar nas carnes, no etanol e em outras mercadorias que levam o cereal direta ou indiretamente em seus processos produtivos.
Se o governo que estiver em Brasília, a partir de 2023, estender a alíquota zero de importação, que o atual estendeu até dezembro – após prorrogações desde a primeira iniciativa, de outubro de 2020 – os compradores terão que torcer para o câmbio e as cotações de Chicago compensarem.
O ministro da Agricultura (Mapa), Marcos Montes, pensa que conseguirá fazer a China a importar já neste semestre, após anunciar protocolos de enquadramento fitossanitários e de qualidade exigidos pelos chineses.
Seja agora, seja o ano que vem, quando a cadeia de ração, por exemplo, sentir que o novo cenário de destino é certo, a precificação vai começar a existir, pensa o trader e analista Roberto Carlos Rafael, da Germinar Corretora.
É exatamente o que acontece com Chicago quando a China busca mais soja.
E é que aconteceu, também internamente, quando o dólar explodia e a demanda internacional correu para o milho brasileiro, fazendo os preços nas gôndolas pressionarem a inflação. Foi quando o governo decidiu oxigenar a oferta interno liberando as importações sem custo tarifário, atendendo às empresas frigoríficas.
Dados da autoridade alfandegária da China mostram importações de 28,5 milhões de toneladas em 2021, mais de 150% sobre 2020. Nos primeiros seis meses deste ano, chegou a quase 14 milhões, em leve queda.
Uma parte disso saindo do Brasil também, especialmente em caso de a demanda interna no processamento para rações, e outros subprodutos chineses aumentarem mais (e provavelmente fazendo crescer suas importações globais), tem poder de brilhar os olhos dos produtores e ofuscar os de proteína animal e de etanol.
Edson Wigger, presidente do Frigorífico Notable, de Santa Catarina, com exportações de cortes de suínos, não tem dúvida: “O encarecimento da [nossa] produção virá, com certeza”.
No setor de etanol produzido com milho, na Unem, que reúne as destilarias, o presidente Guilherme Nolasco lembra que o milho para consumo doméstico “já é precificado por Chicago”, daí que “competimos com o mercado internacional”.
Mas o executivo diz esperar que essa nova janela para o Brasil não mexa com o mercado.
É difícil, na medida em que é tradicional que as compras chinesas estimulem a formação de preços.
Ou, por outro lado, a estratégica imaginada é que com mais milho disponível, Chicago não seria muito influenciado, porque os chineses estariam substituindo parte de suas importações dos Estados Unidos e Ucrânia pelo produto do Brasil, vê o analista Vlamir Brandalizze.
A menos que o houvesse uma explosão das necessidades do país, além das atuais – que já o torna o maior comprador global do cereal -, e com problemas de safras como na atual, dos Estados Unidos, e dos ucranianos em guerra. Aí os preços internacionais teriam um baita fôlego.
Brandalizze vê a China trabalhando para ter altos estoques, não depender de Estados Unidos e da Ucrânia e evitar desequilíbrios futuros como pode ocorrer com os produtores da Ucrânia (Money Times, 26/7/22)